09/03/2008

100 000 professores descontentes

100 000 professores descontentes marcham em Lisboa. Foram o dobro do número de comunistas na marcha da semana passada.

É um número impressionante de manifestantes e fizeram-no de forma cívica e sem incidentes. Ainda bem!

Mas como a democracia tem regras, as leis não se fazem na rua. O governo foi eleito com um programa de reformas e está a implementá-lo. As reformas servem para corrigir os problemas e os professores são uma classe previlegiada até mesmo dentro da função pública. Mesmo com esta reforma continuam com benefícios que os outros funcionários públicos não têm...

Continuo convencido que a generalidade dos portugueses quer que as reformas continuem. Quanto mais grupos específicos se manifestarem por causas injustificadas como não quererem ser avaliados ou por quererem ter estatutos especiais, mais a generalidade dos Portugueses apoiará a necessidade de um governo reformista com maioria absoluta.

7 comentários:

nelio sousa disse...

Aos poucos, a sociedade vai dando razão à actual luta dos professores - e irá dar mais razão quando as consequências da actual política educativa se fizerem sentir nas escolas -, abandonando um discurso muito popular, de tão dissiminado que está, que os docentes são uns preguiçosos e privilegiados.

Começam a surgir vozes solidárias perante os radicalismos e atropelos do Ministério da Educação. Veremos se tal situação é evitada cá na Madeira, na futura regulamentação do Estatuto Regional da Carreira Docente, que é basicamente igual ao de lá.

Há mitos e lugares comuns que se foram criando e que se vão repetindo, para despejar ódio em cima de tudo o que represente alguma autoridade, seja professor, padre, político, polícia... Mina-se a confiança nas instituições de uma sociedade.

A estratégia do Ministério da Educação foi culpabilizar, diabolizar e condenar na opinião pública os professores, procurando assim legitimar todas as medidas. O tiro está a sair pela culatra.

É pena que se viva num país e, sobretudo, numa Região em que as alternativas para o emprego qualificado são restritas, para não dizer escassas ou inexistentes, em alguns casos. Se as houvesse, haveria aqui falta de professores como já existe, por exemplo, em Inglaterra. Os melhores procuram alternativas mais compensadoras do ponto de vista da realização profissional e do ponto de vista salarial.

A luta dos professores não é só por questões salariais ou estritamente laborais. Implica o sistema de ensino. Um sistema de avaliação complexo e burocratizado desvia recursos docentes, que deveriam estar ao serviço, nas escolas, do trabalho de aprendizagem das crianças e jovens. Não de malabarismos para justificar a danificação da carreira.

Quando há quem diga que é uma profissão tranquila, estável e privilegiada não sabe o que é a vida nas escolas nos dias que correm, com graves problemas de indisciplina, violência e uma atitude negativa perante o trabalho intelectual por uma boa parte dos alunos. Muitos docentes sobrevivem na profissão sem condições para acederem à realização pessoal e profissional. Há um desencanto generalizado que atinge os agentes de ensino, que não contribui para a qualidade do mesmo. Nem a realização pessoal se consegue.

É um privilégio para o funcionário público (profissão não liberal) que compra todo o material, desde o informático até livros ou uma simples caneta (é pagar para trabalhar); que tem de ter um espaço em casa para trabalhar e arquivar montanhas de papel, com os gastos que implica, sem esquecer a mistura do trabalho com a vida familiar; um privilégio só poder tirar férias ou viajar em época alta no Verão, com tudo mais caro; é um privilégio o desgaste intelectual e emocional precoce e acentuado; um privilégio andar pela noite dentro e fins-de-semana a corrigir testes e coisas que tal; é um privilégio a instabilidade de ter um horário de trabalho diferente todos os anos; professores contratados (precários) anos a fio sem saber se vão alguma vez ter estabilidade; enfim, só mordomias, não haja dúvida.

Os docentes são um corpo especial dentro da função pública, pelas suas qualificações e pelo papel basilar que desempenham na sociedade.

Se é tudo tão maravilhoso, só não entendo porque não temos pessoas a querer deixar a sua profissão para serem professores.

nelio de sousa

amsf disse...

Nélio Sousa escreveu:
"Se é tudo tão maravilhoso, só não entendo porque não temos pessoas a querer deixar a sua profissão para serem professores."

Mas o inverso também é verdadeiro. Se ser docente é assim tão mau não se percebe porque é que não há um número significativo de professores a abandonar a profissão. A verdade é que estamos todos mal e ainda estamos no início de uma crise que será global...

Unknown disse...

Nélio, os argumentos que utilizas e que os professores em geral têm utilizado são bastante incoerentes entre si.

Há quem se queixe da avaliação, do respeito, da burocracia, do excesso de trabalho, da indisciplina, do salário, do número de horas lectivas, das férias, das condições nas escolas... Enfim, queixam-se de muita coisa há muito tempo!

Mas o que trás para a rua os professores não são os problemas que já existiam há muito. O que os trás agora para a rua é terem de se autoavaliar e ser avaliados, mas também que essa avaliação seja relevante em termos de progressão na carreira.

Nota bem... progressão na carreira! Alguém é despedido por ser mau professor? Alguém baixa de salário? Não! Apenas não sobe na carreira...

Como é que professores que têm de avaliar os alunos no seu dia à dia têm tantos problemas com a definição de critérios de avaliação para si próprios?

Porque é que colegas não se podem avaliar uns aos outros?

Na minha empresa fazemos avaliação 360 graus. Todos se avaliam a todos. Os chefes também são avaliados como todos os outros funcionários!

Os resultados da política educativa deste país estão há vista. Os resultados dos nossos alunos são muito maus!

E na Madeira ainda são piores!

Como é que na Madeira com a grande melhoria do parque escolar não existem melhorias dos resultados dos alunos?

Será que falta cimento nas nossas escolas? Ou será que falta mais trabalho, empenho e massa cinzenta?

Onde é que está o tal povo superior nos resultados escolares?

M. Alexandre disse...

Só um aparte ao seu artigo tendencioso.
Porque é se a educação está tão mal em portugal, nao se começa por avaliar e analisar os curriculos escolares? É que se estão desajustados precisamos de começar por aí. É a minha opinião. Quantos ás empresas e ás avaliaçoes 360, sabemos bem como elas são....é que eu tambem tenho essa e sei como é.
cumprimentos
Manuel Marques

Unknown disse...

Já começámos pelos curriculos. Já existiram tantas mudanças aos curriculos, agora é necessário aguardar que produzam resultados.

Também já se apostou nas instalações escolares...

Também se apostou nos alunos com grandes melhorias no pré-escolar.

Só faltam os professores e os pais.

M. Alexandre disse...

Concordo consigo nas instalaºoes escolares, mas nao posso concordar com o pré escolar, e muito menos com o curriculo escolar. Entre os meus filhos ha uma distancia considerável e não vejo nenhum, mesmo nenhum avanço a este nível.
No entanto devo referir uma coisa, ha progressos no que toca a manuais escolares. QUanto aos pais, o facto de ter nas reunioes com o Dt do meu filho aparecerem 4 pais sistematicamente dos 27 que deveriam aparecer diz tudo. QUanto aos professores concordo que tem que ser avaliados, mas porque não ouvir o que tem a dizer??? temos medo que seja verdade o que eles dizem ???
abraço

Unknown disse...

O pré-escolar foi muito alargado nos últimos anos. Hoje já estamos perto dos 80% na abrangência do pré-escolar.

Na Madeira o PSD fez um truque ao "legalizar" as amas dando-lhes uma escola de "referência"... Enfim, quem não tem cão caça com gato...

Em relação ao curriculum escolar já devemos estar na 10ª reforma ou qualquer coisa assim...
Há quantos anos temos confusões nas escolas com os diversos curriculos e respectivas fases de transição... Já devemos ter uns 15 anos de reformas atrás de reformas nos curriculos.

Em relação aos pais estamos de acordo. Ainda falta fazer a reforma do sistema educativo em relação aos pais. Com esta última mudança os pais passam a poder ter um papel mais activo na "Assembleia" da escola. Se não funcionar acho que devem passar a existir multas para os pais que não vão regularmente às reuniões com o director de turma e eventualmente associação de pais.

Em relação aos professores... têm sido ouvidos o tempo todo. Inclusive algumas das objecções que levantaram foram atendidas. Por exemplo: os pais já não vão avaliar os professores, como inicialmente era proposto.
Neste momento a reivindicação dos professores é apenas não quererem esta avaliação. A questão é qual é a avaliação que querem?

Isto faz-me lembrar aquela história do condenado à morte que como último pedido disse que queria ser ele a escolher a árvore em que seria enforcado. O juiz aceitou e a partir daí passou o resto da vida a passear pelos campos com os carrascos e nenhuma árvore era adequada para que fosse enforcado.

Os maus professores sabem que serão penalizados com a avaliação e por isso contestam. Os outros professores não sabem quão bons são e por isso têm medo. Pelo sim, pelo não, contestam.