Professores ligeiramente irritados

Gostei bastante da mensagem do Miguel Fonseca sobre educação.
http://bastaqsim.blogspot.com/2008/03/sistema-de-avaliao-dos-professores.html

Como ainda não falei sobre o tema aproveito a deixa.

O principal problema com os professores é que estão mal habituados. Perder previlégios é uma chatisse... É muito agradável ter progressão automática na carreira, ter uma avaliação fictícia em que todos são fantásticos, chegarem todos ao topo da carreira, mesmo os que são muito maus.
Isto aplica-se aos professores mas também à generalidade dos funcionários públicos.
A situação que vivemos durante muitos anos com os professores não é a de legitimas expectativas mas a de bandalheira. Durante muito tempo faltavam professores devido à massificação e por isso houve laxismo governamental. Era maior a procura do que a oferta...
Noutros tempos até o Alberto João deu aulas de geografia... imagine-se.

Todos nós passamos pelas escolas e tivemos professores inacreditavelmente incompetentes. Também haviam os outros! Desses até me lembro os nomes e marcaram-me para a vida!
Mas muitos professores não preparavam as aulas e se limitavam a cumprir os mínimos. E eu andei em escolas privadas...

Na verdade o único incentivo dos bons professores era o brio, porque na maioria dos casos ainda eram gozados pelos que não se esforçavam. Não saber fazer ou ensinar nunca foi impedimento para não dar aulas...

E é por tudo isto que também estou ligeiramente irritado com os professores em protesto.
É que eu tenho uma filha quase a nascer e eu tenho muito receito dos professores que ela encontrará na escola. Não porque serão professores desmotivados ou em revolta com qualquer ministra ou ministério da educação, mas porque ser professor desde há alguns anos passou a ser a ocupação profissional de quem não sabe fazer outra coisa na sociedade. Não são os melhores e que têm a vocação de ensinar que querem ser professores. São milhares à procura de um emprego com salário certinho no final do mês, progressão na carreira garantida e com cada vez menos horas lectivas à medida que a idade avança. É mole e confortável não é? Então que tal se esforçarem para que quando os miúdos à vossa frente forem adultos se lembrem de vós como professores e não como sorvedouros de dinheiros públicos.

Mas não julguem que digo isto por questões políticas do momento. Não há nada pior para denegrir os serviços públicos do que ter funcionários incompetentes (e arrogantes) e que não têm superiores hierárquicos que não põem o serviço nos eixos.
O problema não é só nos professores! Reparem no que se passa com os médicos que transportam clientes dos serviços públicos para os privados e transportam os custos dos consultórios para os serviços públicos. Que chegam tarde e/ou saem cedo porque têm os seus interesses privados em conflito com a sua função pública.
Já alguem pensou bem nas horas que se perdem por ter milhares de pessoas à espera que o sr. doutor se signe aparecer ao serviço?

Há algum tempo tinha uma consulta marcada para as 8h30 no Centro de Saúde. Cheguei pontualmente. Às 9h00 vieram-me dizer que a sra. doutora só costumava chegar às 10h30 e era melhor ir tomar um cafezinho... Irritado foi reclamar e indicaram-me onde o podia fazer. Quando lá cheguei, o serviço de reclamações só abria às 11h... Fui-me embora sem consulta e sem reclamação. No dia 15 do mês seguinte paguei a prestação da Segurança Social sem qualquer desconto...