13/05/2008

A culpa dos computadores

Um cidadão tem perfeita consciência que já vive na sociedade da informação quando a maioria das desculpas para as coisas que não funcionam são os computadores. Já todos aceitamos que não dá para viver sem eles e como os computadores não se queixam, também não se importam que lhes atiremos as culpas!

Enquanto os culpados forem os computadores e não os engenheiros informáticos ou os responsáveis pelos serviços vivemos felizes... Ou se calhar não...

Duas pequenas histórias sobre a culpa dos computadores:

Contaram-me que ao solicitar à segurança social o abono para apoio a criança com doença crónica o mesmo foi recusado porque o sistema informático só aceitava o pedido para criança com deficiência e não para o caso de doença crónica.
Ora, o que é engraçado é que é a mesma lei que define a existência dos dois apoios! O danado do computador só aceita um deles, logo o benefeciário não tem direito ao apoio previsto na lei... A culpa é obviamente do computador...

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Quando fomos fazer o assento de nascimento da Rita no Registo Civil, o sistema informático estava atrozmente lento... Não estive para esperar e fui embora, mas antes dei uso àqueles livrinhos de reclamações que tanto incomodam os senhores doutores directores chefes.
Recebi prontamente duas respostas por carta -uma do serviço e outra do respectivo director regional.
O mais engraçado era o teor da carta... Diziam que eu só tinha razão parcialmente. Confirmavam que o sistema estava lento, mas que no dia em que reclamei tinham conseguido atender 3 pessoas... era só uma questão de paciência... e claro a culpa era do computador!
Disseram também que era possível fazer o assento à mão em vez de utilizar o computador... Hipótese que nunca chegou a ser experimentada por ser demasiado arcaica.

Da segunda vez que lá fomos para a mesma tarefa tinham já haviam passado vários dias.
Eram já 14h e desde as 11h da manhã que o computador estava bloqueado com um pedido pendente...
Como a culpa era do computador, nem valia a pena reclamar no livrinho porque o serviço e o computador não tem nada a ver um com o outro... São personalidades jurídicas completamente diferentes!
Aliás, o máximo que o serviço me poderia dar com uma segunda queixa era apenas 3/4 de razão...

À terceira lá se fez o assento... A simpática funcionária, que me reconheceu enquanto utente reclamante, lá respirou de alívio quando o computador fez o que lhe era pedido sem bloquear...
Enfim, a culpa é dos computadores como é óbvio.

Eu tenho uma teoria em relação aos computadores da administração pública... Eu acho que eles adquirem a personalidade maioritária entre os seus colegas humanos, tornando-se assim impliquentos, complicados e burocráticos.

Acho que se devia fazer uma lei que obrigasse os computadores da função pública a ter a equiparação em termos de personalidade aos computadores da sociedade civil: obedientes, solicitos e eficientes.

Estou certo que os computadores não se iriam importar desta legislação que sobre eles actuaria. Nem reclamariam, nem fariam greve, nem sequer manifestações à porta dos locais visitados pelo primeiro-ministro. Os computadores nem sequer votam... por enquanto...

:-)

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